domingo, 15 de março de 2015

Alergia medicamentosa


 Reação adversa a medicamento segundo a ANVISA é qualquer efeito nocivo, não intencional e indesejado de uma droga, observado nas doses terapêuticas habituais em seres humanos para fins terapêuticos, profiláticos ou diagnósticos. As reações adversas a medicamentos classificam-se em previsíveis e imprevisíveis.
  Previsíveis:São comuns, podem ocorrer em qualquer indivíduo e são relacionadas à ação farmacológica da droga, são dose-dependentes. Representam 75% das reações adversas a medicamentos. Elas são divididas em quatro tipos:

  • toxidade
  • Efeito secundário ou indireto
  • Efeito colateral
  • Interação de drogas

  Imprevisíveis:  São incomuns, ocorrem em pacientes suscetíveis, não são relacionadas a ação farmacológica da droga, depende da resposta individual de cada um, de deficiências genéticas ou resposta imunológica, são dose-independentes. Representam 25% das reações adversas a medicamentos. Elas são dividas em três tipos:

  • Intolerância medicamentosa
  • Reação idiossincrática
  • Reação de hipersensibilidade ou alergia (15% das reações alérgicas a medicamentos)

  As reações de hipersensibilidade ou alergia a medicamentos, segundo a WAO – World Allergy Organization podem ser alérgicas ou não alérgicas, conforme apresentem ou não mecanismo imunológico como desencadeante. As reações a medicamentos na sua maioria não são provocadas por mecanismos imunológicos, consideradas portanto como reações de hipersensibilidade não alérgica. (envolve anticorpo especifico ou linfócito T sensibilizado, ocorre a liberação de mediadores diretamente de mastócitos ou basófilos ou ativação do sistema complemento. As manifestações clinicas são semelhantes a de uma reação alérgica.)                                               A reação adversa a medicamentos é adquirida. É possível nunca ter sido alérgico a um medicamento e de repente se tornar. Pacientes atópicos (com asma, rinite e/ou dermatite atópica) podem apresentar reações IgE mediadas mais graves. A via de administração parenteral, ou seja, por soro, provoca reações mais intensas. A incidência de reação alérgica ao medicamento é maior quando administrado de forma intermitente. O uso contínuo está associado a menor incidência de sensibilização alérgica.                                            
Às vezes as drogas apresentam estruturas químicas semelhantes e por este motivo dizemos que apresentam reação cruzada, ou seja, podem provocar os mesmos efeitos. Isso explica porque pode ser necessária a suspensão de um grupo de medicamentos. Os fármacos que mais provocam reações adversas são os antibióticos e os anti-inflamatórios não esteroidais.

  TIPOS:
  Existem quatro tipos de reação causada por alergias medicamentosas:
  • Reação imediata tipo I: tem a participação do anticorpo IgE, resultando num quadro clínico com rinite, asma, urticária, angioedema (edema da derme profunda atingindo pálpebras e lábios) e anafilaxia (em que o paciente pode apresentar coceira na pele, vermelhidão, sensação de desmaio, falta de ar, chiado no peito, queda de pressão, choque, náuseas, vômitos e diarreia, urticária e angioedema. A obstrução progressiva das vias aéreas e colapso circulatório podem levar a coma e óbito)
  • Reação tipo II: ação direta do anticorpo IgM ou IgG no tecido ou orgão, com ativação do sistema complemento. Pode atingir pele, pulmão, fígado, músculos, nervos periféricos e células sanguíneas. Pode provocar anemia hemolítica, diminuição de plaquetas e nefrite intersticial
  • Reação tipo III: Envolve a formação de um complexo antígeno-anticorpo que provoca lesão do tecido com ativação do sistema complemento. O quadro clínico envolve febre, urticária, presença de gânglios, inflamação das articulações, vasculite e envolvimento renal
  • Reação tipo IV: que é mediada por linfócitos T sensibilizados com produção de linfocinas, como a dermatite de contato.
  CAUSAS:
  A alergia medicamentosa ocorre quando há envolvimento do sistema imunológico, que interpreta o medicamento como uma substância que causará algum dano ao corpo e o ataca. Na primeira vez que isso ocorre, um anticorpo específico é acionado, a partir da segunda exposição haverá uma manifestação clínica.

  SINTOMAS:
  Os sintomas de alergia medicamentosa podem ser divididos de acordo com as regiões que afetam:
Manifestações na pele:
  • Urticária
  • Erupções na pele (máculo-papulares ou vésico-bolhosas)
  • Fotosenssibilidade
  • Eritema fixo
  • Vasculite
  • Dermatite de contato
  • Dermatite esfoliativa
  • Necrólise epidérmica tóxica (NET)
  • Pustulose exantemática aguda generalizada (PEGA)
  • Angioedema.

Manifestações renais:
  • Glomerulonefrite
  • Síndrome nefrótica
  • Nefrite intersticial

Manifestações pulmonares:
  • Infiltrados eosinofílicos
  • Vasculite
  • Fibrose intersticial
  • Asma e rinite

Manifestações no fígado:
  • Colestase
  • Lesão hepato-celular

Manifestações no sangue:
  • Anemia hemolítica
  • Trombocitopenia
  • Agranulocitose
  • Eosinofilia

Manifestações sistêmicas:
  • Anafilaxia
  • Doença do soro
  • Febre
  • Síndrome Lupus-like
  • Poliarterite
  • Síndrome de hipersensibilidade
  A anafilaxia é uma situação grave, que pode resultar em coma e óbito, com sintomas de pele (urticária, angioedema, vermelhidão no corpo, coceira nas mãos e no corpo, palidez, sudorese, arrocheamento dos lábios e extremidades (CIANOSE), do sistema respiratório (tosse, sibilos, falta de ar, rouquidão, aperto na garganta, espirros, coriza e entupimento nasal, lacrimejamento), sistema cardiovascular (arritmia, taquicardia, tontura, fraqueza, queda de pressão e dor no peito), sistema gastrointestinal (dor abdominal, náusea, vomito e diarreia). O paciente pode apresentar perda de consciência, convulsões, podendo chegar a um estado de coma e se não for socorrido rapidamente pode chegar ao óbito.
As reações alérgicas podem ser imediatas (30 minutos até 2 horas após a administração da droga), aceleradas (2 a 48 horas após a administração da droga) e tardias (48 horas após a administração da droga).

  DIAGNÓSTICO:
  Os testes para detecção de alergia a medicamentos não mostram eficácia e especificidade para todos os fármacos. A maioria das reações a drogas não é dependente de mecanismo IgE mediada, portanto não respondem a um teste alérgico Muitas reações imunológicas são provocadas por metabólitos e não pela droga principal. Estes metabólitos são de difícil identificação.
Os testes mais utilizados são:
  • Dosagem sérica de IgE específica
  • Teste cutâneo de hipersensibilidade imediata
  • Teste cutâneo intra-dérmico
  • Teste de provocação
  • Teste alérgico de contato
  • Detecção de anticorpos IgE, IgM, IgG específicos
  • Teste de ativação de basófilos
  • Teste de proliferação linfocitária.

  Muitos destes testes não são realizados em consultório, porque necessitam de monitorização em ambiente hospitalar. O que melhor caracteriza o diagnóstico é a minuciosa história clínica. Os testes ficam reservados para o paciente que não tem como substituir o medicamento.

  TRATAMENTO:
  A medida mais importante é o afastamento do medicamento suspeito. Como muitas vezes há reação cruzada com outras drogas, portanto é necessário evitar o grupo todo. O médico especialista deve orientar a substituição por um fármaco semelhante.
Alguns medicamentos podem ser usados para aliviar os sintomas persistentes da alergia. Entre eles:
  • Antihistamínicos
  • corticosteroides
  • broncodilatadores.

  Há um tratamento realizado em Hospital Escola chamado de dessensibilização, que consiste em, por meio de protocolos bem definidos, induzir a tolerância do medicamento.
Nos casos de anafilaxia além do socorro imediato com adrenalina auto-injetável, o paciente pode precisar de oxigênio e medicação intravenosa, necessitando de um suporte de emergência e internação.

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